CE tem 6,5 mi de pessoas aptas a votar; eleitorado mais escolarizado cresce 71% entre 2016 e 2020


A menos de três meses para a eleição municipal de 2020, que vai eleger prefeitos e vereadores para os 184 municípios do Ceará, a população já percebe que o pleito deste ano vai ser diferente dos anteriores, tanto pelo cenário de pandemia como pelas mudanças no calendário eleitoral. Mas, para além disso, o perfil do eleitorado cearense apto a ir às urnas no dia 15 de novembro também passou por mudanças em relação ao que foi às urnas em 2016.

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao todo, 6.567.760 pessoas estão aptas a votar no Estado em 15 de novembro, um incremento de 242.980 (3,8%) em relação ao pleito de quatro anos atrás. Mas não foi só a quantidade de eleitores que aumentou neste ano. O nível de escolaridade também: uma parcela de 71,5% em relação ao pleito de 2016.

O índice é referente aos dados do eleitorado com Ensino Médio completo, Ensino Superior incompleto e completo no Ceará quando comparados os valores deste ano com os do último pleito municipal. O crescimento representa um incremento no nível de instrução de mais de 1 milhão de eleitores. Em 2016, havia 1.467.792 pessoas aptas a votar com esses níveis de escolaridade. Hoje, esse valor é de 2.518.482 (mais que o dobro).

Do total de eleitores (6,5 milhões) no Ceará em 2020, a maior parte (51,96%) tem entre 21 e 44 anos, 59,5% são solteiros, 52,9% são mulheres e 47,1%, homens.

No entanto, apesar da melhora nos índices de eleitores mais escolarizados, a quantidade com baixa instrução ainda é a maioria em números gerais: 3.527.364 pessoas (53,7% do total).

Esse número é referente à quantidade de eleitores que sabem ler e escrever, mas não concluíram o Ensino Médio. Apesar de o percentual continuar elevado, houve uma diminuição de 18,6% em relação ao quantitativo de quatro anos atás – quando 4.335.722 estavam nessa situação.

Já em relação ao eleitorado analfabeto, quase não houve oscilação nos últimos quatro anos. Em 2016, eles eram 514 mil e agora são 520 mil, uma variação de 1%.

Reflexos no voto

Cientistas políticos entrevistados pela reportagem apontam que a melhora nos índices de escolaridade do eleitorado cearense se devem a melhorias no acesso à Educação no Brasil, principalmente de nível Superior, que advém de políticas públicas “de médio e longo prazos” implantadas nas últimas décadas. No entanto, eles afirmam que essa melhora não reflete diretamente no voto da população, apesar de permitir ao eleitorado mais acesso à informação.

A professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares, explica que não necessariamente essa maior escolaridade significa que os eleitores irão escolher de acordo com o nível de instrução de seus candidatos, porque há outros fatores que influenciam o voto, como religião, família, classe social, entre outros – além do fato de que o status de ensino não é um sinônimo de qualidade.

“Do ponto de vista eleitoral, não necessariamente a ideia do eleitor mais escolarizado quer dizer que ele faz uma escolha ‘mais qualificada’, porque a nível eleitoral o mais qualificado é o representante que vai representar o seu mundo, seus anseios, suas perspectivas. O que é mais ou menos qualificado envolve uma série de outros critérios”, analisa.

O cientista político Emanuel Freitas, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), acrescenta que, muitas vezes, o nível escolar do candidato é o fator de menor relevância para o eleitorado.

“Às vezes a família, a igreja, a classe social, determinam mais a sua escolha do que as informações que você recebeu pela escolaridade. Se houvesse uma relação diretamente proporcional entre escolaridade e representação política, a gente poderia dizer que parlamentares com nível superior produzem uma política superior, o que não é verdade e já tivemos várias demonstrações com escândalos de corrupção”, explica.

Além disso, tanto Monalisa Soares como Emanuel Freitas também explicam que um menor grau de escolarização não significa um voto “ruim”, desatento ou descompromissado, até porque cada indivíduo escolhe candidatos de acordo com seus ideais, vivências e para defender o interesse do grupo político com o qual se identifica.

População

“Você pode ter uma pessoa mais escolarizada concorrendo, mas muitas vezes ela está ali se apresentando como representante de um grupo, de uma classe, de uma religião, então ela vai defender as causas desse grupo”, acrescenta Emanuel Freitas.

Os dois cientistas políticos observam, ainda, que os índices escolares, de gênero, estado civil e faixa etária do eleitorado cearense também são reflexos da evolução demográfica do País, onde há mais mulheres do que homens, jovens, maior expectativa de vida e mais acesso à níveis mais elevados de Educação por uma própria exigência do mercado de uma mão de obra mais qualificada.

“Nas últimas década, teve um incremento forte do Governo Federal e Estadual na Educação. Então, essas pessoas com melhor escolaridade hoje eram pessoas que estavam nas escolas ou saindo delas e tendo acesso a universidade. Não foi algo que aconteceu em quatro anos. É a médio e longo prazos”, finaliza Monalisa Soares.

Biometria

Apesar do aumento no eleitorado cearense em 2020, a coordenadora do cadastro eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), Lorena Belo, explica que o número deve cair após a eleição, porque os eleitores que vão poder votar mesmo sem ter feito a biometria voltarão à situação de irregularidade com a Justiça Eleitoral.

“Após as eleições, o cancelamento dos títulos volta a surtir seus efeitos e esses eleitores precisarão buscar atendimento para se regularizar e fazer a coleta biométrica. Observaremos que o eleitorado de Fortaleza e das 54 cidades do interior do Estado que passaram por revisão biométrica em 2019 voltará a cair e ficará menor do que o eleitorado hoje apto a votar”, aponta.

 

Sistema Asa Branca de Comunicação

FONTE: Diário do Nordeste


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